Por: Ler para Crer
“Como faço para evangelizar um ateu?” — pergunta alguém que visita o blog — e um ateu que se tem como o melhor amigo.
Entre uma e outra reflexão que a pergunta provoca, ela me faz também recordar um minissermão que pesquei do site Sermons4Kids
e adaptei para crianças de minha igreja faz alguns meses, no momento
conhecido como a Adoração Infantil, que ocorre durante o culto. Com base
no convite de Jesus “vinde a mim e eu vos farei pescadores de homens”
(Marcos 1:17), conversamos sobre os três segredos básicos para uma boa
pesca, segundo os especialistas: 1. Ter um bom equipamento; 2. Ir aonde
os peixes estão; 3. Ter bastante paciência.
A seguir, a mesma aplicação daquele
minissermão à atividade de evangelização em geral e ao caso da pergunta,
em alguns pontos, usando para isso algumas passagens da Bíblia e
trechos do livro Ministério do Amor, quando não mencionado outro livro:
1. O primeiro item “1. Ter um bom equipamento”
obviamente remete ao nosso preparo pessoal. Se o trabalho é
evangelizar, temos de estar bem equipados com a Palavra de Deus. O
conhecimento e principalmente a vivência do evangelho se
tornam essenciais. Antes de ensinar a outros o caminho ou responder a
quem nos pede razão da nossa esperança, é preciso estar ‘estabelecido’
na verdade e revestido com a armadura de Deus. Foi o contato diário e
próximo com Jesus, com suas palavras e ações, que deu aos discípulos a
segurança necessária para o trabalho da pregação, mesmo diante da
oposição. ”…Antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e
estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo
aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” (I Pedro 3:13)
“Portanto, estejam preparados. Usem a verdade como cinturão. Vistam-se
com a couraça da justiça e calcem, como sapatos, a prontidão para
anunciar as boas-novas do evangelho da paz.” Efésios 6:14-15 (NTLH).
Em relação especificamente aos que se
dizem ateus, e considerada a observação que faço mais à frente, acredito
que possa ser útil também conhecer algumas obras ou sites de
apologética cristã. Excetuados alguns detalhes que podem não
corresponder à nossa doutrina, em geral há nessa área excelente material
de escritores cristãos clássicos, como C. S. Lewis (ele próprio um
ex-ateu e autor de Milagres, Cristianismo Puro e Simples e O Problema do Sofrimento, livros que podem ser encontrados aqui) e contemporâneos como William Lane Craig, Greg Koukl e outros (Geisler e Turek, por exemplo, escreveram o ótimo Não Tenho Fé Suficiente para Ser Ateu, recomendado no Apologia, outro site muito proveitoso).
Quanto ao evolucionismo, mencionado na
pergunta e um tema naturalmente controverso no diálogo com nossos
amigos, recomendo ler publicações ou visitar sites que exponham
a inconsistência da propaganda materialista/evolucionista. Muitos
céticos, dominados pelo pensamento cientificista e pela confusão de
evolução e ciência, nunca examinaram as afirmações darwinistas
criticamente, e cada vez mais são as descobertas da ciência, e não a
contraposição religiosa, que vêm expondo a face metafísica e não
científica da posição (e da reação) evolucionista (na sequência vou
traduzir um artigo bem resumido com alguns fatos sobre o assunto) .
Alguns links que já indico na lista aqui do blog (Criacionismo – A
Lógica do Sabino – Darwinismo) são ótimas fontes de pesquisa. Mas há
muitos outros bons sites, especialmente em inglês, sendo Darwin’s God,
para mim, um dos mais esclarecedores, entre os “estrangeiros” que tenho
visitado recentemente. A observação é que tanto o alto conhecimento
teológico, a erudição, a apologética, a filosofia, ou o assunto do
evolucionismo, embora úteis para dirimir questões incidentais, não são
em si ”o evangelho” e não podem se tornar o foco principal da nossa
vivência missionária a ponto de tomar o lugar do essencial: a mensagem
de salvação em Cristo Jesus. “Ora, é necessário que o servo do Senhor
não viva a contender…” (2 Timóteo 2:24). Como afirma outro ex-ateu, se
um de seus antigos amigos céticos se mostrassem interessados de fato,
ele sugeriria que eles abrissem a Bíblia e começassem a ler o evangelho
de João. Ou a carta aos Romanos. E orassem a Deus para que os ajudasse a
ver a verdade.
Pode parecer redundante, mas ainda assim é
bom lembrar que a oração é parte essencial de nossa experiência cristã
pessoal, sendo a oração por sabedoria, pelo nosso trabalho missionário
específico e pelas pessoas a quem nos dispomos a evangelizar uma
extensão natural dessa experiência e do nosso preparo. E, ainda, entre
todos os “equipamentos” necessários que poderiam ser citados, não pode
faltar evidentemente um em especial, que congregue todos os nossos
esforços: o amor. Recentemente, ouvi um experiente pregador repetir que o
amor, acima de tudo, possui o apelo mais convincente.
“O amor que
Deus revelou pelo homem está além de qualquer computação humana. É
infinito. E o instrumento humano, que participa da natureza divina,
amará como Cristo amou, trabalhará como ele trabalhou. Haverá uma
natural compaixão e simpatia…[...] Este amor só pode existir e e ser
conservado santo, refinado, puro e elevado mediante o amor na alma por
Jesus Cristo, nutrido pela diária comunhão com Deus.”
“Eloquência,
conhecimento da verdade, talentos raros, misturados com amor,
constituem todos eles preciosas dotações. Mas a habilidade somente,
talentos somente, ainda que os mais escolhidos, não podem tomar o lugar
do amor.”
“O amor de
Cristo, manifestado em palavras e atos, encontrará caminho à alma,
quando a reiteração do preceito ou do argumento nada conseguiria.”
2. “Ir aonde os peixes estão”;
Assim como para uma pesca bem-sucedida não basta apenas ter um
excelente equipamento — às vezes guardado numa bela embalagem, porém
sem uso —, o evangelho só faz sentido completo quando nos sentimos
“guardadores” dos nossos irmãos e obedecemos ao “ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura”(Marcos 16:15), rejeitando o
“monasticismo” e o isolamento. É indispensável a interação e o convívio
com nossos semelhantes, a solidariedade com as perdas de cada um, o
aproximar dos necessitados onde eles estão, o “chorar com os que
choram”, o “alegrar com os que se alegram”. O ateu Christopher Hitchens,
um dos mais acirrados oponentes do cristianismo, depois de revelar
recentemente que tinha câncer no esôfago, disse se sentir “tocado” pelo
pensamento de que pessoas extremamente boas estavam orando por ele.
A observação que considero importante
aqui, ainda que sem entrar em maiores detalhes, é a de que aproximação
não significa, obviamente, compactuar com doutrinas e práticas
contrárias à fé cristã.
Como a pergunta deixa clara a existência
já de uma relação de amizade, tem-se, no caso, a vantagem do testemunho
pessoal, que é um dos meios mais eficazes de comunicação. Considerando o
método de Jesus de enviar discípulos de dois em dois, podemos
acrescentar a sugestão de que mais amigos cristãos sejam incorporados ao
nosso esforço evangelístico, ajudando-nos a compartilhar a mensagem e
apoiar naquilo que seja necessário para sua compreensão. Aliado ao apelo
pessoal, ainda podemos cumprir o “Ide” silenciosamente, ao divulgar ou
distribuir livros, revistas, oferecer cursos bíblicos, cds ou dvds,
convites para eventos que divulguem a cosmovisão da igreja e do
evangelho, entre outros meios “criativos” de levar a mensagem.
“Jesus
entrava em contato com as pessoas. Não se mostrava arredio e afastado
daqueles que necessitavam Seu auxílio. Ele frequentava os lares,
confortava os tristes, curava os enfermos, alertava os descuidados, e
saía pelas vizinhanças fazendo o bem. E se seguimos os passos de Jesus,
precisamos fazer como Ele fazia.”
“Unicamente
os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O
Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o
bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e
granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-me’. João 21:19″
“Dirijo-me a
cristãos que vivem em nossas grandes cidades: Deus vos fez depositários
da Verdade, não para que a retenhais, mas para que a comuniqueis a
outros.”
“Não devemos
esperar que as almas venham a nós; precisamos procurá-las onde
estiverem. Quando a palavra é pregada do púlpito, o trabalho apenas
começou. Há multidões que nunca serão alcançados pelo evangelho se ele
não lhes for levado.[...]Ide aos lares mesmos daqueles que não
manifestam nenhum interesse.”
3. Ter bastante paciência.
Pescar, dizem os aficionados, é uma arte que requer mesmo muita
paciência. E o mesmo pode-se dizer do processo de evangelização, como se
vê:
“Mas”, dirá
alguém, “suponhamos que eu não consiga ser admitido nos lares do povo;
suponhamos que se levantem contra as verdades que apresentamos. Não nos
deveremos sentir dispensados de empenhar novos esforços por eles?” De
modo nenhum. Mesmo que fechem a porta em vosso rosto, não vos retireis
apressadamente e indignados, não fazendo novos esforços, por salvá-los.
Pedi a Deus, com fé, que vos dê acesso a essas mesmas almas. Não cesseis
vossos esforços, mas estudai e planejai até que encontreis algum outro
meio de atingi-los. Se não tiverdes êxito mediante visitas pessoais,
experimentai-o mandando-lhes o mensageiro silencioso da Verdade. Existe
no coração humano tanto orgulho de opinião, que nossas publicações
muitas vezes alcançam entrada onde o mensageiro vivo não o consegue.”
Um dos ateus mais aclamados do século XX,
Antony Flew, que, à semelhança do amigo descrito na pergunta, ”não
acreditava em nada”, passou quase toda sua vida acadêmica e profissional
negando a existência de Deus. Só pouco tempo antes de falecer,
reconheceu, por fim, que Deus Existe; Uma
senhora em minha igreja orou durante 20 anos pela conversão do esposo.
Os exemplos de rejeição, oposição e demora em responder ao convite de
Deus são muitos. Nosso compromisso com Deus deve ser renovado cada dia
para que, junto com nossa mensagem, nosso testemunho seja constante,
verdadeiro e duradouro. Talvez um bom pensamento para ter em conta no
nosso relacionamento com os que hoje ainda não creem seja o de que
devemos ter em relação a eles um olhar semelhante ao de Cristo, no
sentido de que o Salvador era capaz de ver em cada pessoa não o que ela
era (e isso se aplica ao nosso próprio caso), mas o que ainda haveria de
se tornar. Embora pudesse trazer aqui muitas citações sobre o assunto,
esta, extraída do livro O Desejado de Todas as Nações, parece resumir o ideal que deveríamos ter como alvo:
“Eis”,
disse Jesus, “que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto
sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas.” Cristo mesmo
nunca suprimiu uma palavra da verdade, mas sempre a proferiu com amor.
Exercia o máximo tato e cuidadosa, benévola atenção em Seu trato com o
povo. Nunca foi rude, nunca proferiu desnecessariamente uma palavra
severa, não ocasionou nunca sem motivo uma dor a uma alma sensível. Não
censurava a fraqueza humana. Denunciava sem temor a hipocrisia, a
incredulidade e a iniqüidade, mas tinha lágrimas na voz quando emitia
Suas esmagadoras repreensões. Chorou sobre Jerusalém, a cidade amada,
que O recusava receber a Ele, o Caminho, a Verdade e a Vida.
Rejeitaram-nO a Ele, o Salvador, mas olhava-os com piedosa ternura, e
com tão profunda dor, que Lhe partiu o coração. Toda alma era preciosa
aos Seus olhos. Conquanto Se portasse sempre com divina dignidade,
inclinava-Se com a mais terna consideração para todo membro da família
de Deus. Via em todos os homens almas caídas que era Sua missão salvar.
Os
servos de Cristo não devem agir segundo os naturais ditames do coração.
Precisam de íntima comunhão com Deus a fim de que, sob provocação, o
próprio eu não sobressaia, e despejem uma torrente de palavras
inconvenientes, palavras que não são como o orvalho ou como a chuva
suave que refrigera as ressequidas plantas. É isto que Satanás quer que
façam, pois são esses os seus métodos. É o dragão que está irado; é o
espírito de Satanás que se revela em zanga e acusação. Mas aos servos de
Deus cumpre ser Seus representantes. Ele quer que usem apenas a moeda
corrente no Céu, a verdade que Lhe apresenta a imagem e inscrição. O
poder com que têm de vencer o mal, é o poder de Cristo. A glória dEle, a
sua força. Devem fixar os olhos em Sua beleza de caráter. Podem então
apresentar o evangelho com divino tato e suavidade. E o espírito que se
conserva manso em face da provocação, dirá mais em favor da verdade, do
que o fará qualquer argumento, por mais vigoroso que seja.”
Diante desta e de tantas outras
demonstrações do amor de Deus, é natural que nos perguntemos como alguém
pode ainda recusar o convite do evangelho. Na pergunta “como faço para
evangelizar um ateu?” é possível enxergar aquela ”angústia” natural que
sentimos por resultado. E, dado o nosso desejo intenso de que este
resultado seja positivo, a pergunta quase se converte em ”Como
evangelizar um ateu de modo que ele deixe de ser ateu e se torne um
cristão salvo por Cristo?” ou “Como ‘converter’ um ateu?” ou “Existiria
um método irresistível para abordar, convencer e ‘converter’ grupos
específicos de não-crentes?”
A realidade é que mesmo quando
testemunhamos de forma correta, mesmo havendo evidências suficientes
para quem queira crer, mesmo com todo o esforço despendido na
evangelização: pregação, oração, tato e paciência durante o processo,
aliado ao próprio trabalho do Espírito de Deus no coração, ainda assim
não podemos “escolher” pelos nossos amigos. Eles serão sempre livres
para tomar sua própria decisão.
E essa é a parte do processo que também
precisamos compartilhar com Deus. Haverá ocasiões em que sorriremos
juntos. Mas também haverá momentos de tristeza, dor e lamento: “Quão
terrível é achar-se junto ao esquife de alguém que rejeitou os apelos
da misericórdia divina! Quão terrível dizer: Aqui está uma existência perdida!”. Oro para que, no caso de seu amigo, haja muitas lágrimas; mas de alegria.


